Entrevista a David Ferreira

A entrevista que se segue foi feita a uma pessoa que dedica a sua vida à magia.Aproveitou essa sua paixão e foi até à Pediatria do Hospital S. João no Porto,ensinar um pouco e mostrar um pouco da sua magia às crianças e diverti-las, fazendo-as passar um bom tempinho. O maior motivo da entrevista foi o facto de ele lidar com crianças que estão a fazer quimioterapia, pois quero saber o estado de espirito dessas crianças,apesar da situação, e o motivo que o levou a fazer o voluntariado.

David Ferreira de 23 anos,nascido na Foz mas residente em Ermesinde,expressa a sua paixao à cerca de 10 anos. Com 14 anos apenas fez a sua primeira magia mas só aos 18 deixou de ser uma simples brincadeira passando a ser algo mais profissional, mais sério.Para além da magia, David Ferreira, trabalha como preparador de obras na área de certeficação e inspeção de empreitadas e obras públicas.

eu: O que te levou a fazer voluntariado na pediatria do hospital S.João?

David: A paixão pelas crianças foi um dos principais motivos que me fez levar a cabo este tipo de iniciativa. Contudo,o facto de já ter passado pelo mesmo, aquando criança também deu para sentir na pele as manhãs enfadonhas de tratamentos, as tardes a olhar para uma televisão e deitado na cama sem nada para fazer e sem motivos para um sorriso poder dar. Este tipo de iniciativa infelizmente não pode ser feita todos os dias mas cada dia passado com estas crianças vale por muitos outros dias.

eu: O que fazes mesmo com as crianças?

David: Existem várias coisas que eu e a minha equipa de animação temos para proporcionar às crianças. Desenvolvemos várias actividades para também não se tornar repetitivo para elas e assim temos sempre connosco o elemento surpresa. Ás vezes fazemos magia, reunimos os miúdos não acamados na sala da cresce e fazemos um mini espectáculo de magia. Outras vezes andamos a passear pelas 3 áreas da pediatria com a mascote do Joãozinho, isto para algumas pessoas que não sabem que a própria pediatria tem uma mascote com o nome de Joãozinho, e com ele distribuimos brindes e brinquedos oferecidos por alguns dos nossos apoios assim como outros dias distribuimos balões do Joãozinho e até narizes de palhaço. Tentamos variar o mais possível.

eu: Qual o momento que mais te marcou?

David: Bem todos os momentos passados na pediatria são marcantes, cada sorriso de uma criança é como um carimbo de tinta permanente nos nossos corações. Mas houve sim um momento extremamente intenço para mim, na segunda vez que lá fomos reencontramos uma menina de 6 anos que estava acamada já na primeira vez que lá tínhamos ido. Quando a menina nos viu de novo saltou da cama veio a correr em direcção a mim e agarrou-se a chorar dizendo: " já tinha saudades do sr. do coelho e da cartola", foi simplesmente único visto que quando estivemos com essa menina a primeira vez ela nem sequer falava.

eu: Tens contacto com crianças que estão a fazer quimioterapia?

David: Sim tenho. É chocante e toca bem dentro de nós ver uma criança naquele estado.

eu: Que casos é que aparecem mais?

David: A maior parte dos casos que se encontram lá são problemas intestinais ou crianças que sofreram um acidente. Vêe-se algumas gastrites, varicelas mais agressivas, pneumonias, e claro algumas cabeças rachadas e umas pernas partidas. No serviço de oncologia, felizmente, não se vêe muitas crianças.

eu: Uma palavra de conforto para pessoas/crianças que estejam a passar por situações idênticas à minha.

David: Então a vida não acaba, há que ter muita força e encarar o problema de uma forma positiva. Temos excelentes profissionais que está mais que visto que só não fazem o que não podem e embora o problema mude a nossa condição de vida não quer dizer que mude a nossa vida por completo. Só nos temos que agarrar com unhas, braços e dentes.

FELIZZZZ =D

Bem foi o hoje o dia em que fui saber o resultado da biopsia, depois de 15 dias de nervosismo tive a noticia que ja espera há dias. Finalmente está tudo bem comigo não acusou nada. EHEH CONSEGUIIIIIII =D Nem sei o que dizer...Estou mesmo feliz. Considero-me uma verdadeira lutadora. Todas as pessoas que estão a passar por isto espero que tenham um final feliz como eu tive e apesar de tudo devemos de lutar por tudo aquilo que queremos mesmo que não acreditemos que vamos conseguir,mas tentar não custa. Para além da notícia que tive hoje vim mesmo contente do IPO, vi la uma menina com os seus 6/7 anos assim sem cabelo, mesmo linda, nao sei o que se passava com ela, mas as gargalhadas dela enquanto andava de trotinete marcaram-me bastante,estava tão feliz que nem parecia que estava onde estava.Vale a pena estar ali à espera e ver as crianças assim, é um orgulho vê-las sorrir daquela forma. :) Obrigada a todos aqueles que me apoiaram, que me deram uma palavra amiga quando eu mais precisei, que me deram força e alegria. MUITO OBRIGADA do fundo do coração :)

Mais um dia complicado hoje :s Fui fazer uma biopsia,porque quando fui fazer um exame, o PET, acusou um ganglio no mesmo sitio e então tive de fazer a biopsia para ver se é do mesmo problema que eu tive ou se é uma infecção. Se for infecção não há nenhum problema mas se for do que eu tive tenho de voltar à quimio. Vão ser 15 dias horriveis há espera da resposta :( Mas não há-de ser nada, mas que foi horrivel foi, doeu bastante apesar de ter levado anestesia local (porque eu escolhi pois podia ter levado geral) mas o que custou mais foi a impressão da agulha que têm de espetar para tirar um bocado para análise (peço desculpa às pessoas mais sensíveis). Mas já está agora o pior mesmo é a espera para saber o resultado, mas como já disse não há-de ser nada se deus quizer. :)

Auto-entrevista

-> Como descobri o que se passava comigo?
.Comecei por ter dores no fundo das costas, as pernas a ficarem-me presas e a barriga começou a crescer como cresce às grávidas. Primeira mente fui à urgência do hospital Pedro Hispano e a médica que me atendeu disse-me que era uma simples infecção urinária, mesmo depois de ver as análises que a minha médica de família me mandou fazer, análises essas que não acusaram nada.Depois fiz uma ecografia e o médico disse que tinha o utero com dimensões grandes para a minha idade mandando-me fazer uma ressonância, ressonância essa que não acusou nada; sempre se via dois tecidos diferentes ali mas ninguém descobria o que era. Fui encaminhada para o ipo e depois fui operada e entrei em tratamento.

-> O que me foi detectado?

.Foi-me detectado um tumor germinativo no ovário.

-> Como foi encaminhado o meu tratamento?.Como já referi na primeira questão fiz vários exames até à operação, depois da operação a análise ao tumor acusou que era maligno, por isso tive de fazer quimioterapia. Existem vários tipos de quimioterapia, a minha consistia em estar internada durante 5 dias(entrava à sexta e saía à terça), nesses cinco dias estava ligada a uma máquina durante 10 horas (+/-). Primeiro colocavam-me um saquinho pequenno que era por causa dos enjoos, depois eram 3 sacos diferentes de quimio e para acabar colocavam-me dois sacos de soro. Na sexta da mesma semana que saio do internamento vou ao hospital de dia para levar uma pequena injecção,na sexta asseguir volto ao hospital de dia para fazer o mesmo e na proxima sexta volto a ser internada, isto durante 4 semanas de internamento (corresponde a um ciclo de tratamento).

->Como foi enfrentar esta realidade?
.No início não foi fácil, custou bastante receber uma notícia destas,principalmente por ser tão jovem. O pior foi mesmo quando recebi a notícia, porque na hora da operação eu só queria entrar no bloco operatório para acabar com aquele sofrimento. Depois claro tive as controversias da quimioterapia mas confesso que julguei ser pior. Custou-me ter cortado o cabelo curtinho mas passado alguns dias optei por rapar,pois começou a cair e isso era bem pior do que o rapar de vez (adoro ver-me sem cabelo fica tão engraçado). E depois claro havia os enjoos, a fraqueza nas pernas, a falta de apetite, tive de levar 5 tranfusões de sangue e 1 de plaquetas...enfim coisas que me meteram embaixo mas quanto mais embaixo pior por isso tem que se ter bastante força de vontade nesta altura.

-> Como ocupava o meu tempo livre nos tratamentos e após os tratamentos?
. Durante os meus tratamentos ocupava o tempo a jogar no pc (mas pouco tempo porque perdi a vontade para estar no pc), a ver televisão, dormia bastante porque o tratamento deixa-nos cansados ou lia um livro. Depois dostratamentos não fazia muita coisa porque vinha cansada mas de vez enquando estava no pc ou lia um livro, mas quando acabei mesmo o tratamento comecei a estudar.

->Relativamente à escola o que aconteceu?
.Eu fiz a matricula mas tive para anular pois pensei que não ia voltar. Falei com uma professora do ipo que me disse que não era necessário anular a matricula, desde então tive um professor pelo ipo que me deu aulas de matematica e agora tenho professores aqui em casa, isto para assim poder fazer os exames e tentar acabar o ano.